Os perigos dos produtos caseiros para bronzeamento
Já estamos no outono, mas ainda tem muita gente que quer aproveitar o calor dos últimos dias e garantir o bronzeado para o resto do ano – muitas vezes apelando para a moda do momento ou até mesmo recorrendo a clínicas sem nenhuma autorização legal para funcionar.
Foi o que aconteceu na semana passada com quatro mulheres em Itabuna, na Bahia. Elas usaram biquínis feitos com fita, passaram um produto caseiro no corpo e ficaram expostas ao sol, sofrendo, assim, queimaduras de primeiro e segundo graus em várias partes do corpo. O caso foi registrado pelas vítimas na delegacia da cidade.
Segundo a dermatologista da Neoderme e membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), Luz Marina Hannah Grohs, é um grande risco usar receitas caseiras para estimular o bronzeamento, pois podem causar irritação e potencializar as queimaduras solares.
‘Existem muitos produtos que são usados para estimular o bronzeamento e que são extremamente perigosos, tais como o uso da parafina, óleos de urucum, coca cola, uso de chás (preto) e pó de cacau. Ao serem aplicados na pele podem gerar irritação e potencializar uma queimadura solar, pois funcionam como uma lente de aumento, aumentando os efeitos da radiação ultravioleta. Além disso, na maioria dos casos não se utiliza o filtro solar, o que acaba piorando o quadro”, explica a dermato.
Perigos do bronzeamento com fita
Esse tipo de bronzeamento ganhou destaque em 2018, quando a funkeira Anitta lançou o clipe Vai Malandra. No vídeo, ela e as figurantes usavam um biquíni de fita isolante para se bronzear.
De acordo com a dra. Luz Marina, o uso prolongado de fitas, adesivos e esparadrapos podem causar irritação e dermatite na pele, causando vermelhidão, coceira e pequenas bolinhas vermelhas.
“Sempre que a pele está irritada ou com dermatite pode haver piora com o sol e surgimento de manchas escuras por conta da inflamação da pele”, alertou.
Beleza a todo custo?
Em muitos casos, o desejo pela beleza a todo custo acaba sendo maior que a preocupação com a saúde. Estar bronzeado tem um forte impacto sobre adolescentes e adultos jovens, principalmente relacionados com a atratividade física. Além disso, as redes sociais fazem um apelo estético positivo a atividades em ambientes abertos e os formadores de opinião (influencers), celebridades, modelos de beleza estimulam ainda mais os corpos sempre bronzeados.
“Em casos extremos podemos citar a tanorexia, uma compulsão por estar bronzeado. É uma condição psiquiátrica em que a pessoa, geralmente caucasiana, busca bronzeamento excessivo, seja em ambientes externos ou câmaras de bronzeamento artificial – que inclusive são proibidas no Brasil desde 2009 – para atingir um tom de pele mais escuro por achar seu tom de pele muito claro inaceitável. Alguns estudos explicam que a exposição solar pode liberar beta-endorfinas (hormônios do bem-estar, também produzidos através de atividade física), o que explicaria a necessidade de estar constantemente bronzeado, não importando o dano causado”, acrescenta a especialista.
Câmaras de bronzeamento artificial
O uso de câmaras de bronzeamento artificial é totalmente proibido no Brasil desde 2009, embora ainda haja o uso em alguns locais, o que é totalmente clandestino e deve ser denunciado. Já está comprovado o seu malefício, gerando um aumento de dez vezes o risco de melanoma, câncer de pele mais agressivo de todos.
Bronzeado bonito, sem danos à saúde
Segundo a dermatologista, há pelo menos duas maneiras para ter segurança no bronzeamento:
– aumentar o consumo de alimentos ricos em betacaroteno (cenoura, mamão, laranja), que deixam um tom alaranjado na pele;
– fazer uso de produtos bronzeadores na pele (certificados pela Anvisa) aliados ao uso do filtro solar.
“O uso de ambos – bronzeador e filtro – acelera o bronzeamento sem ter necessidade de a pessoa ficar exposta horas e horas ao sol, além de manter a cor por mais tempo sem aquela descamação característica da queimadura solar”, orienta a médica.
Clínica e profissionais certificados
Para qualquer procedimento na pele que o paciente queira fazer, primeiro é importante que ele consulte um dermatologista e também certifique-se de que o estabelecimento tem alvará da Anvisa para funcionar.
“Primeiramente procurar se o profissional tem registro no seu conselho. No caso do médico(a) dermatologista, entrar no site da Sociedade Brasileira de Dermatologia (www.sbd.org.br), pesquisar pelo nome e confirmar se tem a especialidade registrada pela Sociedade. No caso de estabelecimento estético, avaliar se o local tem alvará da Anvisa, que deve ser afixado em local visível ao público. Em segundo, ver se o profissional da área da estética está devidamente registrado no seu conselho profissional”, acrescenta a dermatologista.
Efeitos do sol na pele
Muita gente não se dá conta que o sol deixa marcas não apenas no momento do bronzeamento, mas a longo prazo pode causar envelhecimento e aumento do risco de câncer de pele.
“Os efeitos dos raios ultravioletas sobre a pele podem ser divididos em efeitos imediatos (agudos) e tardios (crônicos). Os efeitos agudos podem ser queimadura solar (vermelhidão intensa, ardência e nos casos mais intensos surgimento de bolhas). A longo prazo o sol pode causar fotoenvelhecimento que se traduz por uma pele atrófica (pele fina), perda da elasticidade, aumento de manchas solares e aumento do risco de câncer de pele”, lembra Luz Marina.
Vale lembrar que o câncer de pele responde por 33% de todos os diagnósticos desta doença no Brasil, sendo que o Instituto Nacional do Câncer (INCA) registra, a cada ano, cerca de 180 mil novos casos.